Abri aquela caixa embaixo da cama. Aquela onde ficam minhas recordações de viagem, um limpador de lentes de uma supercâmera analógica que não registra mais nada e meu caderninho dos saudosos tempos de terapia cognitiva.
Junto a eles, os óculos de grau do meu pai, o pente e alguns documentos dele. Tudo veio naquele saquinho plástico que o DML entregou ao irmão que teve de reconhecer o irreconhecível.
Em um cantinho, encontro um aparelho de celular estragado. “traz do súper uma bisnaguinha seven boys?” foi a última mensagem de texto que trocamos. O aparelho não liga mais. Estragou com o impacto. Então, me dou conta: “e se eu colocar o chip em outro aparelho? e se eu lembrar do que conversávamos? com quem ele se importava? pra quem ele ligava?”.
Por detrás da bateria, o espaço vazio. “Alguém retirou o chip.” Nunca me atrevi a apagar o contato da agenda telefônica. Busco “p”, busco “pai”, busco, mas busco o quê?
Liguei. Chamou. Alguém atendeu. Senti uma inveja imensa de Oskar Schell e sua secretária eletrônica a sete chaves. Não era ele. Desliguei.